sábado, 8 de junho de 2013

SEGUNDA PUBLICAÇÃO

SÍMBOLOS OFICIAIS DE TAMANDARÉ, BREVE RESUMO.

As fontes históricas que permeiam uma análise e a posterior criação de um documento técnico, não necessariamente se prendem a fontes orais ou bibliográficas. Mas tange muitas vezes o contexto de imagens, símbolos e manifestações culturais existente no seio do objeto pesquisado.
Não diferente ocorreu no processo de construção de minha obra histórica sobre o município de Almirante Tamandaré. Pois, muitas das linhas tecidas, foram construídas a partir de norteamentos gerados por marcos contextualizados em símbolos oficiais, que para muitos não passam apenas de desenhos e rimas.
Foi neste contexto que fui inspirado a criar um capitulo especial para contemplar os símbolos oficiais do município, os quais foram inicialmente definidos pelo artigo 6º da Lei Orgânica Municipal, de 03 de Abril de 1990. Os quais até o ano de 2010 eram três: a Bandeira, o Brasão e o Hino. Sendo que estes ainda deveriam possuir em sua expressão uma mensagem em latu sensu. Ou seja, expressar a cultura, economia,  história  e a autonomia municipal.  Porém, em 28 de setembro de 2010 é instituído pela Lei Ordinária Municipal nº 1538 a Timoneira (Ilex theezans martius) como árvore símbolo da cidade.
Porém, o símbolo que ganha mais destaque por seu corpo metafórico possuir uma extrema capacidade de resumir os três elementos tipificados no 6º artigo  da Lei Orgânica, em latu sensu (sentido amplo). Sem perder a qualidade formal é o Hino de Almirante Tamandaré, estabelecido  junto à comemoração ao centésimo quarto aniversário do município em 28 de outubro de 1993, pela Lei Ordinária nº 246 de 1993.
Sendo que a letra deste hino foi elaborada pelo filho nato desta terra, pertencente a família pioneira que desbravou a cidade. Cito o escritor, historiador, advogado e artista plástico diplomado pela Escola de Musica e Belas Artes Santa Cecília, o Senhor Harley Clóvis Stocchero, que era membro da Academia Sul-Brasileira de Letras, da Academia Paranaense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.   Já a melodia foi composta por outro filho desta terra, também de berço de família desbravadora desta localidade. Cito: o senhor Paulo Rodrigo Tosin, músico diplomado pelo Conservatório de Música e Belas Artes do Paraná que se inspirou na obra Bodas de Fígaro de Wolfgang Amadeus Mozart, para compor a melodia.
Diante desta condição, percebesse que os criadores do hino tamandareense possuíam competência e conhecimentos necessários para elaborar o hino da cidade. Ou seja, bem diferente de algumas cidades que por politicagem recorreram a um concurso cultural escolar, no qual se avalia a literalidade e palavras bonitas. Que se quer atingem a verdadeira função que o hino deve possuir.
Neste contexto, para o leigo ou para as pessoas que migraram para a terra tamandareense e que não possuem o conhecimento sobre a história da cidade o hino possui uma versificação que não é entendida, e por isto muitos criticam. Porém, o hino possui um significado metafórico em contexto latu sensu, o qual irei explicar resumidamente para elucidar a lógica que ele contempla.
Por exemplo: no contexto geográfico e geológico, a versificação inicial, apresenta um ponto de referencia de localização da cidade no planeta, mesmo de forma ampla. Pois quando se refere à constelação do Cruzeiro do Sul, expressa que a cidade se localiza no hemisfério sul do mundo. Ou seja, para quem não sabe esta constelação só é visível em céu austral, ou seja, para os países ao sul da linha do Equador. Nesta mesma versificação se apresentam traços gerais geológicos ao se referir de morros e restingas, além de características gerais da formação vegetal. Sendo que é referenciada ainda duas atividades econômicas inter-ligadas, ou seja, a extração de madeira para a queima que alimenta os fornos da cal, que foi a principal base de sustentação dos filhos dessa terra no passado não muito distante.
Já o estribilho tem uma particularidade metafórica genial. A qual conta a gênese de Tamandaré e a relaciona com o principal elemento forjador da cultura e valores locais que é o cristianismo. Pois, se engana quem superficialmente considera que “Nossa Mãe, Virgem da Conceição”, uma referencia exclusiva a Nossa Senhora. Por quê?
Nossa Mãe se refere à terra original que nasceu a cidade, por este motivo Virgem, ou seja, terra não desbravada, de uma concessão de Mateus Martins Leme. Cuja, expressão Conceição era a utilizada para se referir à concessão. Ou seja, uma doação de terra, a qual era visto como uma dádiva na Colônia, devido a sua extrema qualidade e benefícios. E pelo fato desta terra ter sido perlustrada por portugueses e espanhóis que eram cristãos católicos, a referencia ganhou conotação religiosa. E ficou como Conceição. Que a propósito foi a terceira denominação do município dada pela Lei nº 957 de 28 de outubro de 1889, quando a localidade foi elevada à categoria de Villa. Ou seja, Conceição do Cercado. Que anteriormente  se chamava Nossa Senhora da Conceição, dada pela Lei da Província do Paraná de nº. 924 de 06 de setembro de 1888.
Porém, este verso não carrega só isto em seu contexto, pois, demonstra a presença cristã no município desde tempos que transcendem sua fundação. Pois, para quem não sabe, os missionários da Ordem de Jesus (jesuítas), passaram por estas terras e deixaram suas marcas na região da Varova e de Tranqueira. Da mesma forma que foi graças a influência da igreja Católica e a mão da maçonaria no contexto político que se deu a autonomia da região. Por efeito de curiosidade o Senhor Alberto Munhoz, Vidal Baptista de Siqueira e os outros membros da pioneira Câmara Municipal foram maçom.
Neste sentido, o Hino de Tamandaré é extremamente laico. Mesmo não repassando isto para o leigo e o desconhecedor da história do município. E também se não fosse que diferença iria fazer na ordem do dia. Pois, querendo ou não moramos em um país que possui leis que pregam uma suposta noção laica, sob a luz de uma Constituição Federal que já em seu preâmbulo esboça um contexto contraditório ao que prega e não observa a fé islâmica, xintoísta, bramanista, budista,..., além de possuir impresso em uns de seus símbolos nacionais (a moeda corrente), a expressão “Deus seja Louvado”. Ou seja, em um país predominante  de valores cristãos (que possuem doutrinas que consideram Jesus Cristo). É muito estranho existir pessoas no raiar de um pleito eleitoral preocupadas com o Primeiro Mandamento, enquanto nosso município encontra-se com dificuldades de achar meios para enfrentar as ações proibidas pelo 4º, 5º, 6º, 7º, 8º, 9º e 10º mandamentos.     
E por fim, existe uma consideração hilária que se faz da versificação do “repolho, o tomate e a cenoura”,... No entanto se faz por desconhecimento, pois estes produtos agrícolas com exceção ao tomate foram diversificados em terras tamandareenses por imigrantes eslavos. Ou seja, no contexto deste verso se expressa à presença do imigrante. Já que estes produtos até podiam, existir aqui antes da chegada deles. Mas deixaram de ser exótico a partir da chegada do imigrante.

Bem, expus minhas considerações, formuladas a partir de técnicas que permeiam as interpretações de fontes históricas abstratas e complexas dentro de um contexto de comparação e vinculação contextualizada. É um processo que deveria ser complexo, mas como tive a oportunidade em minha adolescência de acompanhar indiretamente o processo de concretização do hino, esta analise foi facilitada. Porém, no que tange meu futuro livro, infelizmente o capítulo não contemplará uma explicitação tão detalhada.                            

PUBLICADO NA FOLHA DE TAMANDARÉ Nº 685, P. 11, NA QUINZENA DE 01-15/06/2011.


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